sexta-feira

George Pacheco

Além de já ter um conto escolhido para a coletânea "Assassinos S/A - Volume II" (Editora Multifoco 2010); nosso entrevistado da semana também é autor de um romance policial que se passa à bordo de um cruzeiro de luxo que promete manter seu leitor da primeira à última página.

Senhoras e senhores, com vocês: George Pacheco.

Qual foi a inspiração para escrever “O Fantasma do Mare Dei”?
Quando adolescente, eu tentei rascunhar algo parecido com um romance. Uma coisa meio Literatura Fantástica, mas acabei sendo distraído por outras coisas, daí pensei que não tinha talento, que isso era coisa para gente com mais experiência e etc. Eu já havia lido alguns livros, mas não podia me intitular um leitor fanático, eu não era. Aí eu conheci minha esposa e ela minha apresentou Agatha Christie. Devorei seus livros! Já estávamos casados, ela esperava nosso primeiro filho, quando assisti a uma entrevista no canal TV Brasil, no programa Sem Censura, com a escritora Sônia Belloto. Ela estava lançando um livro e afirmava que qualquer um podia escrever. Aquela paixão adolescente foi ressuscitada e comecei a escrever “O Fantasma do Mare Dei”. Ia se chamar “Diário de um marinheiro” e ser contado por outro personagem, em primeira pessoa, mas achei que ficaria melhor no molde atual. Como sou militar de Marinha, procurei escrever em uma ambiente conhecido, o que facilitaria minhas pesquisas. Acho que o resultado foi plenamente satisfatório!

Enquanto o escrevia sofreu algum dos tão temidos “bloqueios criativos”? O quê faz quando isso ocorre?
Graças à Deus, não! Fiquei um bom tempo imaginando a história, já sabendo inclusive o final. Quando comecei a escrever eu já tinha tudo mais ou menos organizado. É claro que surgem dúvidas quanto a nomes de personagens, características de ambientes, coisas que para ser feita a pesquisa eu tinha de interromper o trabalho momentaneamente, mas nada que possa ser chamado de bloqueio mental. Deus me livre!

O investigador Aquiles, personagem central da trama, foi o primeiro a ser criado ou ele “nasceu” depois que os outros que aparecem ao longo do livro?
Na verdade o primeiro a ser criado foi o marinheiro João Camargo, o Johnny. Ele é quem ia contar a história. Depois surgiu o detetive (que na verdade eu já sabia que ia existir, mas ainda não o havia construído), o criminoso, e os envolvidos no crime.

Teve alguma inspiração para a criação do Aquiles ou ele “surgiu” do nada?
Como sou leitor de Agatha Christie, me inspirei em um de seus personagens, o detetive belga Hercule Poirot (o cara é bom). Eu queria criar um personagem à sua altura na literatura brasileira, mas que tivesse defeitos, angústias. Achei que o nome Aquiles seria um nome forte, mas que também sugere um ponto fraco, uma deficiência. Em alguns momentos ele se mostra um pouco estabanado, inseguro, em outros ele é sério e confiante. O sobrenome Balmant é suíço, de uma família de imigrantes que colonizou minha cidade, Nova Friburgo.

E o “grande” vilão?
O “grande” vilão foi inspirado em diversos personagens de filmes, livros e até da vida real. Tudo acaba interferindo no processo criativo, inclusive músicas. A mistura se transformou em um vilão que permanece escondido em boa parte do livro, mas que se mostra verossímil a partir de sua aparição. Não que ele não esteja presente na trama, ele surge logo nos primeiros capítulos do livro, e o leitor tem oportunidade de desvendar o mistério, junto com o detetive.

Na sinopse é mencionado que a melhor amiga do investigador é sua bíblia. O quê o levou a dar essa particularidade ao personagem?
Pouco tempo antes de assistir à fatídica entrevista, eu havia participado de um encontro religioso com minha esposa, o Encontro de Casais com Cristo ECC, da Igreja Católica. Foi um momento de reflexão, um retiro espiritual, e você sai de lá com a alma lavada, literalmente.
Eu sempre fui católico, mas esses encontros potencializam a religiosidade, a vontade de fazer algo pelo mundo, pelo próximo e a nós mesmos. Daí eu procurei dar esse aspecto religioso ao herói. É também um pouco de protesto contra o mundo, ao dinheiro. A particularidade da bíblia contrasta diretamente com a moeda do filme “ O Dólar Furado”, clássico do Bang-Bang Italiano.

Algum dos personagens do livro foi inspirado em algum amigo, parente ou até mesmo em você?
Sim. O próprio Aquiles carrega traços físicos e psicológicos meus. Procurei dar a ele virtudes que eu gostaria de ter, defeitos que eu tenho e que não tenho. Ele é como se fosse meu alterego. O Capitão do navio adora torradas com laranjada, e isso também é meu. Sua figura, um cara boa praça, que se dá bem com todo mundo, com mania de contar piadas, foi inspirada em meu pai. E acredito que muitos personagens, senão todos, tem alguma semelhança com algumas pessoas que eu conheço. A experiência de vida do autor, suas amizades, sua interação com a sociedade, acaba de certa forma interferindo no processo criativo, e é por isso que mesmo que se falasse do mesmo assunto, cada obra é única.

Há algum significado para o nome do navio “Mare Dei”?
Mare Dei é Mar Divino em latim. Sempre gostei de latim, mas nunca tive oportunidade de estudá-lo. Quando procurava um nome para o navio, lembrei-me de uma frase que aparecia em uma lápide, no início do filme “O poço e o pêndulo”, que falava sobre a inquisição – Mors certum, solum tempus incertum est – (A morte é certa, só o tempo é incerto). Como eu estava tocado pelo ECC, decidi que o nome seria algo relacionado a um mar tranquilo, divino, e pesquisei como seria em latim. Deu trabalho, mas enfim consegui.

Além de “O Fantasma do Mare Dei”, você também escreveu outro livro: “Sete – Contos Capitais”. Pode falar um pouco sobre ele?
A primeira coisa que eu escrevi foi “O Fantasma do Mare Dei” .Quando eu estava procurando editoras para meu livro, encontrei a Multifoco e consequentemente uma seleção de antologias, então, comecei a escrever contos e fui selecionado com o segundo que escrevi na minha vida, “Um Anjo Redentor”. Depois dele, surgiram dezenas, os quais publico em meu blog e em diversos sites. Decidi reuni-los em uma pequena coletânea, cujo tema era a idéia principal do livro que rascunhava na adolescência, que deve estar perdido até hoje por aí, escrito à caneta em um caderno velho. “Sete – Contos Capitais” está disposto no formato e-livro na rede, de forma gratuita. Foi uma forma de divulgar meu trabalho, contos já publicados em sites, mas reunidos de sistemicamente.

Você também teve um conto de sua autoria publicado na antologia “Assassinos S/A – Volume II”. Acha que participar de antologias é algo que possa ajudar, de certa forma, um escritor?
Acredito que sim. Toda oportunidade que um escritor novato puder ter é válida. A antologia funciona bem na idéia de divulgar os trabalhos. Às vezes o leitor adquire o livro pelo tema e vai conhecer o autor assim, ou porque tem um amigo dele participando, ou alguém que ele já conhece do mundo da literatura. Sem querer (querendo) ele conhece outros autores tão bons quanto o que ele já conhecia.

Quando e como viu que tinha o dom de escrever histórias?
Eu na verdade não sei, acho que eu não vi isso. Como Aquiles, sou inseguro e sempre peço opinião de minha esposa, minha mãe sobre os meus escritos, exceto os de terror, os quais ambas não gostam, devido ao tema. Mas elas começaram a me elogiar, e também meus amigos e pessoas que eu nunca vi, pessoas que eu só tenho contato pela internet. Isso foi e é gratificante. Então acho que a resposta para essa pergunta é que eu só descobri isso depois que eu comecei a divulgar o livro efetivamente, quando o segundo conto da minha vida foi escolhido para uma seleção.

Tem algum “ritual” quando vai escrever?
Gosto de escrever ouvindo música. Às vezes, quando não posso digitar o texto, por não ter o computador em mãos, escrevo o texto à caneta, à medida que vou imaginando, que vai surgindo a inspiração e depois digito tudo. No caso dos romances, gosto de imprimir e revisar os textos, para depois alterá-lo no PC.

O quê escrever significa para você?
Escrever é mágico. É como aquela frase usada em epígrafes, “Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo”. É mais ou menos por aí. Quando escrevo procuro fazer não apenas histórias, mas deixar uma boa mensagem, algo que possa mudar a visão de mundo da pessoa que lê. Por isso eu costumo dizer que meus textos são um corpo com alma.

Sua família apóia sua carreira de escritor?
Sim, graças à Deus! Foram ao lançamento do livro, lêem minhas histórias na internet, comentam, divulgam. Não tenho porque reclamar disso.

Quais são seu autores favoritos? Há algum que seja mais especial que os outros?
Antes eu escrevia inspirado apenas pela Agatha Christie, depois conheci Sidney Sheldon, Raymond Khoury, Arthur Conan Doile, Stephen King, Júlio Verne, e Iam Fleming; os nacionais Marcelo Rubens Paiva Filho, Luiz Poleto, Paulo Soriano, Luciano Barreto, Luciano Alencar, Flávio de Souza, e o mais recente, Rubem Fonseca, além de outros. Eu não tinha conhecimento de autores nacionais que escreviam o gênero policial, meu gênero predileto, então procurava os estrangeiros, até conhecer Rubem Fonseca, no filme “Uma história de amor dura apenas 90 minutos”. O cara é extraordinário.

Tanto no “Fantasma no Mare Dei” como no “Sete – Pecados Capitais”, existe algum personagem que seja mais especial do que os outros?
Gosto do Aquiles Balmant, de “O Fantasma do Mare Dei”, o Ceifador, do conto homônimo, e Júlia, do conto “A moça da casa ao lado”. Contudo, o maior de todos é Aquiles.

Momento Ping-Pong

Um livro: O cão dos Baskervilles – Sir Arthur Conan Doile
Uma música: Tempo Perdido – Legião Urbana
Um filme: Duplex – com Drew Barrimore e Ben Stiller
Uma frase: “Verás que um filho teu não foge à luta” – Hino Nacional
Um exemplo de vida: Meu pai.
Uma cor: Azul escuro.
Uma mania: Morder a língua quando estou distraído.
Um lugar: Minha casa.
Um sonho: Viver em Nova Friburgo, com minha esposa e meus filhos o tempo que puder. Que eles cresçam e se tornem homens justos e bons. Progredir em minha carreira militar e de escritor e que as pessoas gostem do que eu faço e tenham algo de bom para retirar de minhas histórias.

Antes de encerrar, poderia dar alguma dica ou palavra de incentivo para quem está começando na carreira de escritor?
Não desista. Nunca. Crie um blog, divulgue textos pela internet, faça o maior número de contatos possíveis. Amigos são amigos. Cultive-os como a flor mais bonita do seu jardim. Trate-os como gostaria de ser tratado. Faça por eles o que ninguém fez por você, sem esperar nada em troca. A carreira de escritor é tão difícil quanto qualquer outra. Seja paciente. Você não vai colher frutos no dia seguinte ou em um ano. Aperfeiçoe-se sempre, leia cada vez mais. Estude. Seu ofício será consolidado dia a dia, e quando menos esperar lembrarão de você. Sorte e força, sempre. Fé em Deus.

Confira aqui a sinopse!

2 comentários:

Paulo disse...

Muito interessante (e inteligente) a entrevista. Estão de parabéns entrevistador e entrevistado. Pacheco, cujo talento nos engrandece a todos, diz a que veio e sabe perfeitamente discernir os horizontes a galgar.
E muito obrigado pela referência.
Abraços.

Fernando de Abreu Barreto disse...

Parabéns, Pacheco,

Sucesso. A gente chegará longe junto.

Abraço,

Fernando de Abreu